quinta-feira, 28 de maio de 2009


The simple life

Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Era muito bom ver nos olhinhos dela aquele ar de quem está fazendo uma coisa deliciosamente errada, com alguém com quem não deveria.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Era bom ver como ela era mais feliz me chupando dentro de um carro minúsculo, da maneira mais desconfortável possível, que naquele motel de mau gosto com nome de castelos, paredes cor de salmão, onde você deixa o olho da cara pra pagar a conta e corre o risco de levar pra casa uma brochada de troco.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Nos estacionamentos de clinicas estéticas, nas ruas desertas dos bairros elegantes, na sacada da casa do papai, com um cinzeiro cheio de cigarros, baganas e copos de wisk espalhados pelo chão.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Escutando seus conselhos de como ser feliz, ter sucesso, andar bem vestido e ser admirado. Observando sua preguiça e seu tédio. Assistindo a sua esperança de se casar com um cara bonito, rico e disposto a bancar sua loja de roupas bacanas e seus cremes para a pele, enquanto passa a vida reunido para falar de negócios, prostitutas, carros e conquistas com outros belos maridos igualmente ricos e ocupados.

quarta-feira, 27 de maio de 2009


Vá, mas não me chame

- Você é ator?

- Sim, sou...por que?

- Tenho uma curiosidade:

- Qual é?

- Por que você não quis ser cenógrafo, diretor ou autor?

- Nunca pensei nisso.

- Nunca pensou nisso?

- Sim, nunca pensei nisso.

- Em que você pensou quando decidiu ser “ator”.

- Não sei. Sempre gostei.

- Gostou do que exatamente?

- De ser ator.

- Então você já nasceu ator? Já era ator antes mesmo de ser ator?

- Não. Não é isso.

- Por que não tentou ser autor, já que gosta tanto?

- Porque não tenho talento pra isso.

- Quer dizer que pra ser ator não precisa talento?

- Claro que precisa.

- Mas pra ser autor também.

- Bem...não é bem isso.

- Acho que estou te confundindo. Estou sendo inconveniente não é?!

- Sim, está. Não sei aonde quer chegar com esse assunto.

- Me desculpe. Só queria dizer que com esse seu talento, você devia ser atriz e não ator.

terça-feira, 26 de maio de 2009


Decodificando tolices

Não me lembro mais. Tenho memória de peixe. Sinceramente, não me lembro de ter a universidade, dois bares, festa na casa dos coleguinhas de sala e república dos mano como meu universo particular. Minha cabeça tinha muitas idéias e eu as levava à sério. Eu inventei o jet-ski e a suspensão monochoque para bicicletas antes de existirem. Eu inventei uma marca de surfwear bem longe do mar. Eu imaginava como viver viajando o mundo, pelo resto da vida. Eu criei barcos e dei nome de mulher a cada um deles. Eu construí aviões e dei a volta ao mundo com eles. Eu imaginava um amor pra sempre, com cachorro, filhos e trepadas cheia de romance num balão branco que se parecia com nuvens. A faculdade, os dois bares, a festa na casa dos coleguinhas de sala e a república dos mano eram coisas passageiras demais pra me prender. Na verdade, eram um empecilho para meus delírios. Sou um idiota. Deveria ter acreditado neles e desconfiado do resto.

quinta-feira, 21 de maio de 2009


Lucy in the Sky

Estamos 30 metros acima de tudo meu amor. Daqui sinto o vento forte que me joga suavemente de um lado pra outro. Estamos seguros por fios bem finos presos às nuvens.

- Mas não há nuvens no céu meu amor, você diz.

O vento ficou mais forte e me fez girar.

- Estes dias azuis cheios de vento me fazem querer voar contigo meu amor, sussurro baixinho.

Você segura em minha mão, me olha do mesmo jeito lindo que me olhou pela primeira vez naquele dia confuso e escuro:

- Somos o vento meu amor. Vamos voar delicadamente. Vamos assistir o fim daqui de cima meu amor. Vamos ver as pessoas como pequenos hamsters andando pela cidade, ocupando seus pequenos espaços. Enquanto estão atarefados com suas pequenas obrigação, voamos cada vez mais alto meu amor.

- Sim. Nus entre aquelas escarpas onde o sol brilha em laranja e as nuvens são lilás.

terça-feira, 19 de maio de 2009


Diga não a arte

- Você acredita na arte? Acredita nos artistas? Não se deixe enganar meu caro.

- Bem...

- A arte não existe e artistas são falsários que precisam de atenção. Dê atenção a um artista e faça-o feliz. Nem precisa comprar suas obras. Apenas elogie. Eles se alimentam de elogios. São ególatras carentes. Só Picasso gostava de grana e bucetas.

- Humm...

- Assista a suas peças teatrais. Vá ao seu show. Diga que gosta de Frida Kahlo. A Adriana Calcanho gosta de Frida Kahlo. Os cineastas, diretores, artistas de merda, atores estúpidos, todos gostam de Frida Kahlo. Está na moda. O que não está na moda é gostar de Bosh, Pollack ou Banksy.

- Acho que...

- É fácil deixar um artista desconcertado, sem graça, sem argumentos. Quando encontrar um destes por aí, nunca deixe de perguntar o que é arte? Pra que serve arte? Pergunte se Da Vinci era um artista? Responda imediatamente que NÃO. Da Vinci era um renascentista de múltiplos interesses, inclusive a pintura.

- Mas...

- Se encontrar um artista por aí, conte que para os gregos, não existia a palavra arte e nem o conceito estúpido que criamos mais tarde. Tudo era técnica: a técnica de fazer pinturas, esculturas, sapatos, roubos, navios e a guerra. Pode inventar outra história se quiser. Artistas são burros.

- Eu queria...

- Artista é aquele que expressa algo? Caro amigo, se eu arrotar numa sala cheia de gente esnobe, estou me expressando de forma mais contundente que se fizesse um discurso ofensivo de duas horas ou pintasse uma tela escrota com pedaços de pessoas cortadas.

- Sim, mas...

- Quer se expressar? Acenda um cigarro num ambiente fechado e mostre que democracia é você mandar em alguém e autoritarismo é alguém mandar em você. Assim você expressa seu profundo desdém, nem que seja pelos não fumantes.

- Posso falar?

- Lembre-se que artista é o caralho, ou como diz aquela música: “computadores fazem arte. Artistas fazem dinheiro”.

- Você escreve muito bem, se expressa muito bem. Deveria ser artista.

Ópion


A voz conduz às pedras como fazem as sereias. O desenho da boca, suculenta e desejada como manga. O cheiro do hálito entorpece como éter. Me desculpe se nessa hora falo sem nexo. Estava pensando em sexo.
Mike Merdha

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Tática dos Desesperados

Agora os amigos mais íntimos resolveram dar conselhos amorosos. Quando esse tipo de coisa começa a acontecer, pode ter certeza de duas coisas: você tá visivelmente ferrado e todos os conselhos têm cara de livro de auto-ajuda escrito pelo cara que não comeu ninguém durante os cinco anos de faculdade.

Tática 1

- Se quiser conhecer uma mulher pra tu dar o valor, o melhor lugar é um super mercado. Li uma pesquisa que diz que durante as comprar as mulheres ficam mais receptivas. Principalmente ao sexo.

- Sério?

- Não sei. Mas em todo caso, faz a porra dessa barba, se arruma e vai à luta.

Tática 2

- O melhor lugar pra se conhecer uma mulher de responsa, é na farmácia.

- Na farmácia?

- É isso aí. Ali (assim como quem não quer nada) você acaba criando uma oportunidade para palpitar na vida íntima dela. Quando a bonitona estiver escolhendo o xampu chega junto e diz que o cheiro dele deve combinar com ela.

- E funciona?

- Não sei, mas se não funcionar, aproveita e compra uns tranqüilizantes que passa.

Tática 3

- Na livraria também rola. As pessoas ficam mais intimistas, tranqüilas e abertas a novos conhecimentos. Você passa horas vendo capa de livros, trocando olhares e atirando que nem o Rambo na Amazônia. Além disso, você tem um excelente motivo pra puxar conversa. Sugere uns títulos, diz que já leu o livro que ela estiver na mão.

- Você já pegou alguém numa livraria?

- Não... nem vou em livrarias

- Então cala essa boca!

- Pelo menos eu não tô em pânico que nem você, Johnny Bravo.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Terra do nunca

Você embala a prancha e só ouve o som das rodas correndo pelo asfalto. Depois disso, sobram só o medo e o silêncio.

A curva chega rápida enquanto você despenca. A certeza de que você vai conseguir passar por ela já ficou pra traz.

Agora não dá mais pra parar. Não dá pra mudar de idéia. Também não dá pra explicar por que alguém se mete a fazer isso.

Ninguém tá ali por esporte. É por diversão. Por exibicionismo solitário. Por um tipo de narcisismo. Pela busca de um tipo de liberdade que não existe.

Uma pedrinha no meio do caminho e já era. A visão de 170º cai pra 30% disso. Mal dá pra prestar atenção no vento passando no rosto ou no jeito que você desliza pela curva.

Não sobra muita coisa além dos quatro segundos em que você divide o pensamento entre se preparar pra cair e terminar com estilo o que começou.

Quando termina tudo bem, seu mundinho parece a Terra do Nunca.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


7 perguntas e nenhum suck my dick

Então quer dizer que pra eu te comer vou ter que ir até esse lugarzinho chato, ouvir seus amigos falando sobre baladas inesquecíveis e bandas legais que só eles conhecem?


Quer dizer que se eu quiser te comer vou ter que agüentar esse flash back meia boca da pior parte do underground e ver tudo outra vez?


Se quiser te comer vou ter que achar legal Laranja Mecânica (outra vez), O Fabuloso Destino de Amelie Poulin (mais uma vez) e outros clichês de gerações?


Vou ter que ouvir o blá blá blá sobre como a sociedade trata os desajustados e como você ou sei lá mais quem tenta se virar nesse inferninho particular?


Então quer dizer que pra conseguir te comer, não devo me importar com seu visual super descolado, totalmente antenado com a moda e absolutamente idênticos aos das suas amigas gostosinhas?


Pra te comer vou ter que fazer parte dessa tribo do All Star?


Justo eu, que não suporto ficar recluso a um único universo, quanto mais a um beco?


Porra, faça logo 30 anos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009


Vagabundos bem-sucedido

Você conhece algum? Eu conheço.


Um dos melhores, inclusive.

Aos vagabundos bem-secedidos devemos tudo e temos que reverenciar sempre que cruzarmos com um pelo caminho. Seja por conivência, cumplicidade ou inveja.

Faça isso sem formalidades, mas com respeito e uma certa distância. Nunca com um abraço de quem encontra o amigo na farra.

Vagabundos bem-sucedidos conhecem todo mundo, a fundo. Sabem segredos obscuros dos grandes nomes das altas rodas. Segredos que não devem ser nunca revelados.

Vagabundos bem-sucedidos são exóticos, simpáticos, camaradas, irônicos e sabem fazer as mulheres gozarem, mesmo as frígidas e esquecidas.

Vagabundos bem-sucedidos entram em qualquer lugar sem pagar porque são amigos dos donos ou são confundidos com amigos dos donos.

Vagabundos bem-sucedidos têm sempre uma história incrível pra contar. Histórias que não aconteceriam com mais ninguém. Histórias que são sempre verdadeiras, já que os detalhes são tantos e tão absurdos, que ninguém seria capaz de inventá-los.

Vagabundos bem-sucedidos não trabalham. E não é que não precisem de grana. É que trabalhar ofende sua crença e limita seu estilo de vida.

A semi-escravidão está reservada a nós aqui no andar de baixo. Nunca a eles.

Vagabundos bem-sucedidos poderiam ser arrogantes, mas não são. Eles já perceberam antes de todo mundo, o quanto as pessoas são burrinhas e nunca ultrapassam a média.

Vagabundos bem-sucedidos estão sempre viajando pra lugares incríveis sem ter que pagar um centavo por isso. As pessoas querem ter a companhia de seu charme, sua sedução, seu estilo de vida inalcançável e seu humor de entrelinhas.

Vagabundos bem-sucedidos são justos e sinceros. Não puxam saco, não trapaceiam, não bancam o esperto e não são imorais.

Vagabundos bem-sucedidos são sábios. São nossos mestres do avesso. São nossos mentores em bares copo-sujo. São nossos monges tibetanos da quebrada.

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Once I lived the life of a millionaire
(inspired in Bessie Smith)

Quando eu era um milionário, divertia-me ver como você me queria profundamente. Tão romântica e apegada, não vivia sem mim.

Quando eu era milionário, me olhavam como estrela de cinema enquanto andava pelas ruas.

Quando eu era milionário, ria alto em restaurantes esnobes e minhas gorjetas eram as que mais faziam sorrir os garçons e flanelinhas.

Quando eu era milionário, acordava tarde em camas sempre tão grandes, macias, com pessoas estranhas me servindo um café da manhã de sultão, cheio de frutas que nunca descobri o nome.

Quando eu era milionário, escolhia viagens no jogo de dados, apostava em cavalos de corrida e não me importava com roupas elegantes.

Quando eu era milionário, seu sorriso era tão sincero e farto. Seu olhar era tão legítimo. Seu amor por mim parecia eterno.

Até que um dia, num golpe de azar, os centavos se foram e com eles os restaurantes esnobes, os convites para festas animadas e enfadonhas da alta sociedade, as viagens exóticas, os sorrisos receptivos e as noites em camas espelhadas.

Mas de tudo, o que sinto mais falta, é o respeito dos flanelinhas.