Se você é um Novo Rich ou um new maratonista, não leia esse texto. Corra!
Enquanto eu matava a colheradas grosseiras o meu pote de açaí, uma amiga me disse:
- Bicho Magro, vamos participar da maratona da Caixa Econômica?
- O que?
- É. Tem duas categorias: 5 km para iniciantes e 10 km para iniciados...
Eu olhei pra ela, como quem diz: "Você? Com esse corpinho redondo, fumando que nem mulher abandonada? Não me faça rir". Mas eu não disse mais nada e fiquei com aquela cara cínica que venho tentando evitar há anos e que me impede de comer gostosas superficiais.
- Cara, mas que preguiça. Vamos lá, fazer exercício, nos divertir.
Que saco. Só faltou ela dar gritinhos de uhuuuu e sair correndo.
- Não gosto. Você pode me dar um cigarro?
Esse foi um jeito conveniente de evitar uma resposta inconveniente. Eu não sou muito bom para por fim em assuntos em que minha opinião, além de contrária, é arrogante e ofensiva.
Eu me proibi de citar Nelson Rodrigues. Mas é tão previsível esse comportamento de manada. De uma hora para outra todo mundo decidiu correr. A manada acha chick. Clean. Bacana. A manada quer ser politicamente correta e socializar seu estilo de vida recém-conquistado.
Que povo preguiçoso. Esse aí é um jeito fácil de sentir-se parte de algo que confere um status legal, sem ter que comprar uma Hyundai Santa Fé. Dá pra deixar o seu Escort XR3 estacionado bem longe, colocar a roupinha de malhação e um Nike feito pelas criancinhas chinesas.
De maneira geral, correr é um negócio chato, solitário, entediante, sem graça. Que emoção alguém pode sentir correndo 1 ou 200 km? Como alguém pode se divertir dando um passo após o outro, fodendo os joelhos, suando em bicas com aqueles shortinhos verde limão esvoaçantes ou aquele colanzinho apertado?
Eu não sou sedentário. Eu também sou viciado em endorfina. Também pratico esporte e, aparentemente como os new maratonistas, prefiro os individuais, daqueles que a gente não precisa juntar a panela pra começar.
Acontece que esporte pra mim não é sofrer pra manter a forma ou emagrecer. Eu gosto de me divertir. Ainda não me cansei de quebrar os ossos (incluindo o maxilar) fazendo trilha de bike. Também não perdi o medo de descer ladeira de skate a 60 km/h e correr o risco de deixar o couro no asfalto. É perigoso, mas poucos esportes são tão divertidos e capazes de deixar um sujeito tão adrenado e emocionalmente realizado.
Hum...não concorda? Ótimo. Por mim você pode correr pra onde quiser, pelo resto da vida. E quando for, faça como o teatro: vá, mas não me chame.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
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aí Magrezza, comecei lendo seu blog de trás para frente. seu blog é demais, como sempre escreve com aquela sinceridade marca registrada, coisa rara. definitivamente, você tem personalidade, meu caro.
ResponderExcluirconcordo com tudo inclusive quanto ao teatro. só me lembro de uma peça da qual gostasse, há mil anos atrás, quando um global obscuro veio fazer um monólogo de Oscar Wild. odeio monólogo, mas esse foi legal. aliás, não suporto nada que seja deprê ou enfadonho, tipo assistir "Limite" do Mário Peixoto. isso é coisa pros blasès, filósofos e intelectuais, que adoram ver, ouvir e fingir que entenderam. eu não, acho morto, insuportável.
vi uma performance uma vez, que saí com vergonha pela pessoa que fazia aquilo. era uma coisa dança-teatro-mímica-sei-lá, e a bailarina-autista se contorcia no palco com um pedaço de giz riscando o contorno do próprio corpo no chão. tive vontade de gritar, mas decidi sair discretamente.
não vou falar mal da caminhada, mas maratona é o ó. as pessoas querem se mostrar disciplinadas e prontas para o sucesso. maratona virou símbolo de todos os clichês de S/A. sou maratonista, logo tenho êxito. chato, chato, chato. eu me divertiria mais olhando minha avó crochetar!
bj.