quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Uma carta distante

Antes, eu não sabia que a saudade doía.

To viciado no CD que me mandou. Não dá pra saber de quem são as músicas. Fico deduzindo.
Bob Dylan? Thievery Corporation? The Clash?

Enquanto dirijo, lembro da risada larga, das frases interrompidas, inacabadas.

Então, reconstruo sua imagem começando pelas partes que mais gosto.

Se eu fosse um pintor (nunca um artista), pintaria você que nem o Abaporu, com aqueles pés enormes e tão importantes.



Se eu fosse um compositor, faria um samba bem malandro em homenagem aos seus quadris, só pra rimar com seu nome, te fazer dançar e zombar dos que te querem.


A propósito: aba poru significa Homem que Come em tupi guarani, e eu nao como ninguém

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Desaniversário

Apesar do céu nublado, ganhei um feriado, três dias pra não fazer nada, um monte de ladeiras pra surfar, uma vulva quente e molhada, pezinhos lindos com uma tatoo incompleta, olhos verdes e uma nuca pronta pra morder e cheirar. Um dia antes, paguei por três doses de wisk do bom, ouvi sobreviventes caretas tocarem a mesma música desde sempre e uma ressaca monstro no dia seguinte.

Dois dias depois, ainda durmo infeliz como um cachorro sem lar e com uma saudade cortante de um tipo de vida que ainda desejo ter. Vou acordar com medo de revirar latas a procura de restos, esperando um dono disposto a me curar as feridas na pele, me dar um banho de petshop, um canto pra dormir na área de serviço, uma coleira ante-pulgas, um nome irônico e o direito de ir embora quando quiser.

“Essa felicidade que você persegue não existe”. Só as mulheres com suas vidas perfeitas têm o direito de lhe dar essa punhalada nas costas, mesmos depois de lhe roubar a alma, a cor, a vergonha na cara e aprender a viver com o que você ensinou. Mas nem o tempo e a falta crônica de memória me deixarão esquecer isso. Ainda vou me vingar... tomando um prato de sopa escrito felicidade no fundo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009


Para um Ruminante (não é pra você, sua vaca!)

Meu grande e recente amigo de horas superficiais.

Eu estou aprendendo com você a não ter vergonha de ser escroto. Aliás, estou aprendendo a não ter vergonha e nem me arrepender. Isso pode não ser admirável, mas é um tremendo diferencial competitivo.

Sincero eu sempre fui, só que com muita poesia, pouca malandragem e com dó de atropelar animais na pista.

Mas agora posso confessar que sempre escondi uma vontade quase incontrolável de matar algumas pessoas com requintes de crueldade.

Eu li aquele seu texto... muito bom.

Pensei que fosse para aquela garota de peitos lindos que você sempre fala.

Mas também vi nele uma outra filha da puta que me deixou tristinho pelo resto da vida.

Por sorte somos homem e para nosso gênero sempre haverá o carteado, as drogas ilícitas e algumas putinhas dispostas a nos fazer felizes.

terça-feira, 15 de setembro de 2009


É uma dor

É como disse uma amiga.

"Não sei o que é o amor. Só sei que é uma dor"

Puta que pariu. Como é bom ter gente melhor que a gente ao lado, de quatro ou de frente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009


Marry Me

Se aqui está quente, fico imaginando essa tua cidade com seus quarenta e tantos graus no centro geodésico da América Latina.

(Estou me exibindo, pois na verdade, matei essa aula de geografia).

Fim de semana corrido. Passei o sábado fazendo prateleiras para o quarto do meu filho, arrumando a infinidade de brinquedos que ele tem e tentando dar sentido a cada um deles. Fiquei orgulhoso de mim mesmo. Eu conheço todos os brinquedos, sei como cada um funciona e consigo identificar as peças perdidas de todos eles.

É minha tentativa de limitar o choque de gerações.

Recusei discretos convites para sair à noite com um sincero "perdido" ou um não retorno de ligações e mensagens. Desse jeito vou acabar me tornando um sujeito esquecido pelos demais da mesma espécie e, principalmente, pelo sexo oposto.

Resolvi me redimir com a sociedade e fui aos clubes sentar às mesas, dividir a conta, conversar sobre mulheres, partidas de futebol e trabalho. Claro que não agüentei por muito tempo. É muita pressão e a cerveja foi fazendo a minha cabeça, o que de alguma maneira me limita a paciência e a minha boa educação. Torno-me ainda mais cínico e começo a me achar o cara mais gente fina do mundo. Meu senso de auto-preservação-do-filme-queimado berrou e me mandei. Fui andar de skate, para variar.

Skate é o meu surf.

Domingo o dia estava ainda mais azul. Fui almoçar num restaurante árabe. Eu gosto muito daquela comida e gosto de comparar os narizes alheios. Tento identificar quem ali no restaurante é um árabe de verdade e quem simplesmente gosta da comida.

Tentei fazer cara de árabe em vão

Me lembrei dos seus pés enquanto estava no clube me embriagando sem perder a poso. Para quem gosta, pés gostosinhos são raros e geralmente pertencem a moças que não possuem essa sorte no rosto. É como uma lei de compensação. Com você é diferente, mesmo que não ache.

Você tem sorte. A natureza está do seu lado.

Vi uma moça tão parecida com você. Devia ser o calor. Parecia uma miragem dessas que a gente vê no deserto. Eu nunca estive num deserto. Nunca vi uma miragem. No máximo umas poucas alucinações. Isso me deu uma idéia (com acento). O Atacama é aqui do lado e posso ir pra lá esperar pelas miragens enquanto tomo uma Coca-Cola gelada.

Continuo a minha missão de tentar te impressionar. Para ver se você me acha um cara bacana e inesquecível o suficiente pra viver comigo pelo resto da vida. Para ser minha amante nas horas que são só nossas. Para ser minha melhor amiga em meio a multidão ou enquanto o café não está pronto na cozinha. Para ser minha jovem e bela esposa nos jantares de negócio.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Frases

Do perdedor
O inverno é frio, mas meu coração é mais.

Do fodão
Meu coração é auto-sustentável. Ele não precisa de você.

Do bipolar
Eu me amo, exceto quando me odeio.

Do bem dotado
Foder cú, só dá merda.

terça-feira, 25 de agosto de 2009


A Preta


Quantas coisas mais vai me contar? Todas sempre tão simples e interessantes e...
Quando vai ser o ouvido onde canto musiquinhas pra gente fazer festa?
Quando vai ser a guardiã dessa minha pequena felicidade?

terça-feira, 11 de agosto de 2009


Hypocrisy Prayer

Óh vírus de computador que iria parar o mundo e não parou.
Somos a doença que se espalha sem solução, Senhor.

Óh vírus do porco que não matou o mundo por pouco.
Somos a praga em mutação, Senhor.

Óh coração duro e a alma breve.
Somos o câncer que se multiplica e consome o mundo, Senhor.

Amém.
Amem enquanto é tempo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009


Manual para homens desajeitados


Não posso lhe ensinar nada sobre as mulheres. Mas siga os conselhos de sua mãe. Ela é, provavelmente, o melhor exemplar da espécie e sabe o que está dizendo. Seja gentil com as garotas. Ela lhe dizia isso desde que você aprendeu a falar. Dizia pra ser cavalheiro, gente boa e educado.
Demorei pra descobrir que isso funciona, desde que seja verdadeiro. Ouça com atenção o que elas têm a dizer. Deixe-as falar. Com o tempo, vai perceber que elas têm essa necessidade. Também vai perceber que elas gostam de ouvir histórias e seu ponto de vista sobre as coisas, mas principalmente elogios, numa espécie de mentiras sinceras. Seja romântico na medida certa. Seja sincero em tudo que disser.
É claro que os caras bonitões chamam a atenção e tem preferência na fila. Mas por algum motivo, elas preferem os que têm personalidade, charme, originalidade e algo a dizer. Também gostam dos caras que sejam seguros de si, desde que não sejam arrogantes. Admiram os que fazem as coisas com paixão, desde que não seja torcer perdidamente por um time de futebol.
Por alguma razão, elas pensam no quanto poderiam ser felizes ao seu lado e nas possibilidades de fazer coisas surpreendentes com você. Nunca deixe de adicionar uma pitada de sacanagem e duplo sentido nos seus planos com elas. Nunca diga exatamente o que é, mas deixe pistas pra que ela use a imaginação. Seja sempre divertido, sem ser idiota. Nada de piadinhas. Presença de espírito é mais interessante que qualquer anedota de português.
Aprenda a gostar de cuidar delas. Não como um pai, mas como um homem que segue à frente desbravando o mundo. Tenha bom gosto. Saiba como se vestir com simplicidade. Tenha sempre o chiclete no bolso pra garantir bom hálito. Não seja ansioso e espere o momento certo para apimentar a conversa ou pra pedir licença. Deixe-a pensar que foi ela quem determinou tudo. No fundo, será ela mesma que fará isso.
Nunca, em hipótese alguma, discuta com elas (principalmente com as que você se interessa), mesmo que você tenha razão. Se você conseguir transar com ela, nada de exibições sexuais. Seja delicado e ao mesmo tempo, um tipo de selvagem que usa a força e a sutileza a seu favor. Ta liberado falar palavrão durante a cópula, mas não seja vulgar. Essa linha tênue infelizmente, você terá que descobrir sozinho.
Aprenda que o cheiro delas é, provavelmente o melhor do mundo e que, de maneira fantástica, não se repete pelo corpo todo. Tem o perfume, os cremes, o xampu. O cheiro da nuca não é o mesmo dos seios, embora seja tão bom quanto. Cheire-as como um bicho que vasculha o território. Sexo não é uma prova de resistência ou uma corrida de 100 metros rasos. Nem é uma exibição cheia de alegorias.
Mostre que você a deseja de verdade, mas que não é um faminto que atacou a geladeira e nem sequer prestou atenção no que estava comendo. Pare um momento e observe o quanto o corpo dela é lindo (se não for, omita). Lembre-se que o beijo é a melhor parte de tudo que vem antes ou depois. E por falar em depois, dormir depois de gozar, não é um pecado. Mas faço isso quando tiver certeza de que se tornou uma espécie de ilha deserta onde alguém pode, enfim, descansar no seu peito enquanto assiste ao por-do-sol.
Pegue um atalho e descubra que as mulheres mais interessantes não são as mais bonitas, são as mais charmosas e de personalidade forte. Essas são as que, quando acordarem com você no outro dia, ficarão mais lindas que na noite anterior com toda aquela maquiagem e roupas exuberantes.
No mais, não posso lhe ensinar nada sobre as mulheres. No entanto, muito do que eu deveria ter sido ou feito está escrito aqui.

quinta-feira, 2 de julho de 2009




Ritual Fertility

Músicas são nossas segundas intenções bem disfarçadas.

quarta-feira, 1 de julho de 2009




But the kids is not my son

Não me venha falar da quantidade sem limites de discos vendidos.

De quantas semanas sua música ficou nas paradas de sucesso de qualquer rádio do planeta.

Do jeito diferente e fluente de dançar. Dos videoclipes que mudaram a indústria cultural pra sempre.

Não me venha falar de nada disso. Eu estava lá, vendo e ouvindo tudo em tempo real.

Não me venha falar das bizarrices. Eu também estava lá, com meu velho jeito sínico de não me importar muito com o que não é da minha conta.

Dele, guardo as músicas.

Ainda ouço Don't Stop 'Til You Get Enough com a mesma vontade irresistível de dançar, como se não fosse observado.

Ainda ouço Billie Jean da mesma maneira: como uma música insinuante e inocentemente cheia de sexo.

O garoto que perdeu a infância e a cor fazia a legítima música pop de um jeito que só os negros daquele lugar sabem fazer. Com groove, com balanço, com uma malandragem tão diferente da nossa.

O jeito que os negros daquele lugar dançam, traduz o jeito que falam, o jeito que andam pelos guetos, o jeito que se esgueiram da falta de sorte e da herança inglesa tão polida e contida.

O jeito que os negros daquele lugar dançam, traduz o jeito que se livram dos perrengues e, acima de tudo, traduz o jeito orgulhoso de amar os filhos e a cor de suas mulheres saborosamente fortes e corajosamente charmosas.

sexta-feira, 26 de junho de 2009


Woman Fly


Ela gosta de Folk Music

Ele gosta de Fuck Music

quinta-feira, 25 de junho de 2009



Dancing Queen


Dezoito anos?...putz...Lá vai você outra vez.


Aos 18 você estava noivo da primeira transa, que também foi a primeira namorada, que roubou de um amigo. Um mês depois terminou a farsa e cheirou a aliança com os brother sanguebão. Parada diante de você, com aquele vestido constrangedor, ela tentou se matar na sua frente, mas não foi em frente.

Quanto tempo você precisa perder até que dê a sorte de encontrar ou ser encontrado pela amante dos sonhos ou dos filmes? Aquela gente boa sem neuroses, livre (de rótulos), inteligente (sem pedantismos), charmosa (sem a beleza óbvia), que goste de você e do que você tem a dizer. Aquela que admira seu pensamento e adota sua companhia. Romance ideal.

Você diz que nunca foi muito fiel. Não tenho nada com isso, mas é auto-estima baixa, pode apostar o diploma do seu terapeuta enrustido. Não pode ver um rabinho de saia, uma gostosinha cheirosa e de pelinhos eriçados, uma mocinha lhe querendo com os olhos chapados e a voz em dó maior.

Você lamenta por ter se tornado um tipo de amante. Um fetiche. Uma espécie de lado B pra quem as garotas de família dão antes de entrar definitivamente pra vida adulta, se casar e se tornar uma pessoa séria.

E tudo que você queria era uma companhia decentemente linda pra falar de hindus dos trópicos recém-convertidos aos 46 do segundo tempo, da tendência contemporânea de dar o rabo. Das viagens às praias perfeitas, escondidas em lugares que só você e meia dúzia de iluminados conhecem. Tudo que você queria era ouvir que ela adora mesmo é lhe beijar a boca antes de lhe dizer que adora seu pau.

Por outro lado meu amigo, não se sinta intimidado. Você tem a sorte masculina. Quantos queriam a mulher fatal, a comedora, a fodedora, a devoradora de homens, a insaciável lhe querendo na cama ou onde calhar?

Agora você vem dizer que as performances sexuais não lhe interessam e que não se dá bem com mulheres assim. Diz que não é o provedor fodão, o varão viril e que tá mais pra um romântico inseguro que às vezes dá sorte com as mulheres. Você bem que podia mentir, fingir, fazer a linha.

Mas não, preferiu dizer a ela que vai ficar pra próxima. Aliás, para o próximo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Folhinha

Segunda-feria
Sou um tipo de TPM permanente.
Terça-feria
Um vidrinho de nitroglicerina que é melhor deixar quieto.
Quarta-feira
Sou um tipo de revoltado patológico. Se você não é e por isso está numa posição confortável, aproveite.
Quinta-feira
Se é otimista, aproveite duas vezes mais. Nunca se sabe o dia de amanhã.
Sexta-feira
Sou o lançador míope de facas afiadas.
Sábado
Sou alguém que faz o possivel pra ser um pouco mais sociável.
Domingo
Tento descançar.

quarta-feira, 17 de junho de 2009


Raízes e Asas

Me deixe ficar só um pouco melancólico e me desculpa por não poder mudar o curso das coisas.

Queria que ficasse desse jeito apara sempre, assim como você deseja que eu nunca vá trabalhar. Pra você, o mundo é mágico e eu nunca me esqueci disso. Só não me lembro mais como ter acesso a ele quando você não está por perto.

Preciso lhe dizer, talvez hoje ou depois, que à medida que você crescer, as penas de suas asas irão cair e os músculos atrofiar, até que você perca pra sempre a capacidade de voar. Depois vai ganhar a chave de casa, números que te identificam, um monte de NÃO e coisas sem importância que parecem não fazer o mínimo sentido.

Seus olhos também vão ver menos à medida que vai entendo mais a respeito do que vê. Tomara que não aconteça, mas você vai trocar uma vida onde suas obrigações se resumiam a tomar banho e comer direito, por grades que você nunca vê, mas que também nunca deixa de sentir.

Vai ver que algumas pessoas que aprendeu a gostar, trocarão seus brinquedos por uma busca desnecessária de reconhecimento, sucesso, terapias, grana, casamentos, trabalho, restaurantes, carros, amantes e livros de auto-ajuda. Saiba que eles estão perdidos, angustiados e buscando desesperadamente uma felicidade prometida há muito tempo. Não os abandone, mas não se deixe influenciar.

Por outro lado, se manter os olhos menos ofuscados pelo brilho ou pela crueza nociva das coisas e manter tuas asas fortes para suportar o peso das pequenas coisas que se acumulam, vai ver paisagens tão lindas quanto as que via durante o tempo da inocência e da ingenuidade.

Vai sentir cheiros que contam sua história, ouvir músicas que o farão chorar, rir ou simplesmente dançar outra vez. Talvez preserve seu instinto e continue sentindo sabores simples e deliciosos, como os de chocolate branco que você comia pelas pontas.

Com humor e otimismo, vai conhecer pessoas encantadoras e divertidas que vão fazer você pensar que sim, o mundo é lindo. E ele é filho. Meus olhos é que já não vêem mais.

segunda-feira, 15 de junho de 2009


Finger


Sobre aquele seu universo particular, úmido e quente
Quero senti-lo outra vez na ponta dos dedos.

ANT.a
Afaste-se o quanto puder e veja o formigueiro.
Daqui de cima ele parece impecável, coerente, harmonioso, quase perfeito.
Daqui de cima se vê que todos cumprem ordeiros a tarefa do dia.
Daqui de cima não vemos nomes apressados, nem rostos ocupados.
Então, você pode observar sem constrangimento.
Ninguém olha para cima, nunca.
Não se aproxime demais.
Você pode não gostar quando ver que somos eu e você ali em baixo.
Fique aqui e vamos continuar alheios, admirando como fazem tudo na mesma hora do dia, no mesmo dia da semana, na mesma semana do mês, no mesmo mês do ano, após ano, após anos.
E fim.

sexta-feira, 12 de junho de 2009


VIP - Very Important People


Há tempos ele sentia falta das coincidências e das coisas que só acontecem no acaso, como encontrar aquela gente interessante que nunca tem eira nem beira.

Sentia falta daquelas pessoas diferentes que só andam com a cor da pele, o talento nos olhos e a roupa do corpo.

Daqueles tipos elegantes como o Soul e R&B, que a gente esbarra tocando trompete em New Orleans, ou pandeiro em Berlim.

Então, ela chegou. Com o cheiro simples que não se acha nos supermercados. Com os olhos meio serrados, quase chapados. Como aquelas moças de sorriso largo, avessas ao estrelato.

segunda-feira, 8 de junho de 2009


Direto de Direita


- Por que não faz a barba?
- Por que não corta o cabelo?
- Por que não limpa esse seu tênis todo manchado?
- Por que não usa calças descentes?
- Por que não se sente direito?
- Por que fala desse jeito?

Tem dias que o melhor é quebrar o nariz dos imbecis.

terça-feira, 2 de junho de 2009


Náufragos

As emoções diminuem e poucas coisas parecem ter graça diante dos olhos cansados de ver demais.
Como a utopia pode ser o caminho possível, se dizem que sequer é um caminho?
Respostas soam como pedidos de desculpas.
Então, românticos engajados tornam-se ilhas.
Utópicos compulsivos tornam-se pequenos naufrágios carregados de ouro.
Mergulhados no fundo, são um azar.
Na superfície, são tesouros.

segunda-feira, 1 de junho de 2009




Não se meta

Ela não parava de me olhar e com a falta de luminosidade, também parecia ter um sorrisinho simpático. Resolvi puxar conversa.

- Oi, tudo bem?

- Sim, tudo bem. Eu te conheço, sabia?

- Me conhece?

- Sim

- De onde?

- Da casa de um amigo em comum.

- Desculpe. Não me lembro de você.

- Eu estava com uma amiga, namorada dele...

- Me lembro da ocasião, mas não me lembro de você.

- Claro, você se acha...

- Não me acho. Eu sou míope...

- Sei...pra mim você tem cara de metido.

- Pois é. Você tem cara de quem não é metida...há bastante tempo, inclusive.

quinta-feira, 28 de maio de 2009


The simple life

Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Era muito bom ver nos olhinhos dela aquele ar de quem está fazendo uma coisa deliciosamente errada, com alguém com quem não deveria.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Era bom ver como ela era mais feliz me chupando dentro de um carro minúsculo, da maneira mais desconfortável possível, que naquele motel de mau gosto com nome de castelos, paredes cor de salmão, onde você deixa o olho da cara pra pagar a conta e corre o risco de levar pra casa uma brochada de troco.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Nos estacionamentos de clinicas estéticas, nas ruas desertas dos bairros elegantes, na sacada da casa do papai, com um cinzeiro cheio de cigarros, baganas e copos de wisk espalhados pelo chão.
Quero comer a Paris Hilton e toda a sua futilidade outra vez. Escutando seus conselhos de como ser feliz, ter sucesso, andar bem vestido e ser admirado. Observando sua preguiça e seu tédio. Assistindo a sua esperança de se casar com um cara bonito, rico e disposto a bancar sua loja de roupas bacanas e seus cremes para a pele, enquanto passa a vida reunido para falar de negócios, prostitutas, carros e conquistas com outros belos maridos igualmente ricos e ocupados.

quarta-feira, 27 de maio de 2009


Vá, mas não me chame

- Você é ator?

- Sim, sou...por que?

- Tenho uma curiosidade:

- Qual é?

- Por que você não quis ser cenógrafo, diretor ou autor?

- Nunca pensei nisso.

- Nunca pensou nisso?

- Sim, nunca pensei nisso.

- Em que você pensou quando decidiu ser “ator”.

- Não sei. Sempre gostei.

- Gostou do que exatamente?

- De ser ator.

- Então você já nasceu ator? Já era ator antes mesmo de ser ator?

- Não. Não é isso.

- Por que não tentou ser autor, já que gosta tanto?

- Porque não tenho talento pra isso.

- Quer dizer que pra ser ator não precisa talento?

- Claro que precisa.

- Mas pra ser autor também.

- Bem...não é bem isso.

- Acho que estou te confundindo. Estou sendo inconveniente não é?!

- Sim, está. Não sei aonde quer chegar com esse assunto.

- Me desculpe. Só queria dizer que com esse seu talento, você devia ser atriz e não ator.

terça-feira, 26 de maio de 2009


Decodificando tolices

Não me lembro mais. Tenho memória de peixe. Sinceramente, não me lembro de ter a universidade, dois bares, festa na casa dos coleguinhas de sala e república dos mano como meu universo particular. Minha cabeça tinha muitas idéias e eu as levava à sério. Eu inventei o jet-ski e a suspensão monochoque para bicicletas antes de existirem. Eu inventei uma marca de surfwear bem longe do mar. Eu imaginava como viver viajando o mundo, pelo resto da vida. Eu criei barcos e dei nome de mulher a cada um deles. Eu construí aviões e dei a volta ao mundo com eles. Eu imaginava um amor pra sempre, com cachorro, filhos e trepadas cheia de romance num balão branco que se parecia com nuvens. A faculdade, os dois bares, a festa na casa dos coleguinhas de sala e a república dos mano eram coisas passageiras demais pra me prender. Na verdade, eram um empecilho para meus delírios. Sou um idiota. Deveria ter acreditado neles e desconfiado do resto.

quinta-feira, 21 de maio de 2009


Lucy in the Sky

Estamos 30 metros acima de tudo meu amor. Daqui sinto o vento forte que me joga suavemente de um lado pra outro. Estamos seguros por fios bem finos presos às nuvens.

- Mas não há nuvens no céu meu amor, você diz.

O vento ficou mais forte e me fez girar.

- Estes dias azuis cheios de vento me fazem querer voar contigo meu amor, sussurro baixinho.

Você segura em minha mão, me olha do mesmo jeito lindo que me olhou pela primeira vez naquele dia confuso e escuro:

- Somos o vento meu amor. Vamos voar delicadamente. Vamos assistir o fim daqui de cima meu amor. Vamos ver as pessoas como pequenos hamsters andando pela cidade, ocupando seus pequenos espaços. Enquanto estão atarefados com suas pequenas obrigação, voamos cada vez mais alto meu amor.

- Sim. Nus entre aquelas escarpas onde o sol brilha em laranja e as nuvens são lilás.

terça-feira, 19 de maio de 2009


Diga não a arte

- Você acredita na arte? Acredita nos artistas? Não se deixe enganar meu caro.

- Bem...

- A arte não existe e artistas são falsários que precisam de atenção. Dê atenção a um artista e faça-o feliz. Nem precisa comprar suas obras. Apenas elogie. Eles se alimentam de elogios. São ególatras carentes. Só Picasso gostava de grana e bucetas.

- Humm...

- Assista a suas peças teatrais. Vá ao seu show. Diga que gosta de Frida Kahlo. A Adriana Calcanho gosta de Frida Kahlo. Os cineastas, diretores, artistas de merda, atores estúpidos, todos gostam de Frida Kahlo. Está na moda. O que não está na moda é gostar de Bosh, Pollack ou Banksy.

- Acho que...

- É fácil deixar um artista desconcertado, sem graça, sem argumentos. Quando encontrar um destes por aí, nunca deixe de perguntar o que é arte? Pra que serve arte? Pergunte se Da Vinci era um artista? Responda imediatamente que NÃO. Da Vinci era um renascentista de múltiplos interesses, inclusive a pintura.

- Mas...

- Se encontrar um artista por aí, conte que para os gregos, não existia a palavra arte e nem o conceito estúpido que criamos mais tarde. Tudo era técnica: a técnica de fazer pinturas, esculturas, sapatos, roubos, navios e a guerra. Pode inventar outra história se quiser. Artistas são burros.

- Eu queria...

- Artista é aquele que expressa algo? Caro amigo, se eu arrotar numa sala cheia de gente esnobe, estou me expressando de forma mais contundente que se fizesse um discurso ofensivo de duas horas ou pintasse uma tela escrota com pedaços de pessoas cortadas.

- Sim, mas...

- Quer se expressar? Acenda um cigarro num ambiente fechado e mostre que democracia é você mandar em alguém e autoritarismo é alguém mandar em você. Assim você expressa seu profundo desdém, nem que seja pelos não fumantes.

- Posso falar?

- Lembre-se que artista é o caralho, ou como diz aquela música: “computadores fazem arte. Artistas fazem dinheiro”.

- Você escreve muito bem, se expressa muito bem. Deveria ser artista.

Ópion


A voz conduz às pedras como fazem as sereias. O desenho da boca, suculenta e desejada como manga. O cheiro do hálito entorpece como éter. Me desculpe se nessa hora falo sem nexo. Estava pensando em sexo.
Mike Merdha

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Tática dos Desesperados

Agora os amigos mais íntimos resolveram dar conselhos amorosos. Quando esse tipo de coisa começa a acontecer, pode ter certeza de duas coisas: você tá visivelmente ferrado e todos os conselhos têm cara de livro de auto-ajuda escrito pelo cara que não comeu ninguém durante os cinco anos de faculdade.

Tática 1

- Se quiser conhecer uma mulher pra tu dar o valor, o melhor lugar é um super mercado. Li uma pesquisa que diz que durante as comprar as mulheres ficam mais receptivas. Principalmente ao sexo.

- Sério?

- Não sei. Mas em todo caso, faz a porra dessa barba, se arruma e vai à luta.

Tática 2

- O melhor lugar pra se conhecer uma mulher de responsa, é na farmácia.

- Na farmácia?

- É isso aí. Ali (assim como quem não quer nada) você acaba criando uma oportunidade para palpitar na vida íntima dela. Quando a bonitona estiver escolhendo o xampu chega junto e diz que o cheiro dele deve combinar com ela.

- E funciona?

- Não sei, mas se não funcionar, aproveita e compra uns tranqüilizantes que passa.

Tática 3

- Na livraria também rola. As pessoas ficam mais intimistas, tranqüilas e abertas a novos conhecimentos. Você passa horas vendo capa de livros, trocando olhares e atirando que nem o Rambo na Amazônia. Além disso, você tem um excelente motivo pra puxar conversa. Sugere uns títulos, diz que já leu o livro que ela estiver na mão.

- Você já pegou alguém numa livraria?

- Não... nem vou em livrarias

- Então cala essa boca!

- Pelo menos eu não tô em pânico que nem você, Johnny Bravo.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Terra do nunca

Você embala a prancha e só ouve o som das rodas correndo pelo asfalto. Depois disso, sobram só o medo e o silêncio.

A curva chega rápida enquanto você despenca. A certeza de que você vai conseguir passar por ela já ficou pra traz.

Agora não dá mais pra parar. Não dá pra mudar de idéia. Também não dá pra explicar por que alguém se mete a fazer isso.

Ninguém tá ali por esporte. É por diversão. Por exibicionismo solitário. Por um tipo de narcisismo. Pela busca de um tipo de liberdade que não existe.

Uma pedrinha no meio do caminho e já era. A visão de 170º cai pra 30% disso. Mal dá pra prestar atenção no vento passando no rosto ou no jeito que você desliza pela curva.

Não sobra muita coisa além dos quatro segundos em que você divide o pensamento entre se preparar pra cair e terminar com estilo o que começou.

Quando termina tudo bem, seu mundinho parece a Terra do Nunca.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


7 perguntas e nenhum suck my dick

Então quer dizer que pra eu te comer vou ter que ir até esse lugarzinho chato, ouvir seus amigos falando sobre baladas inesquecíveis e bandas legais que só eles conhecem?


Quer dizer que se eu quiser te comer vou ter que agüentar esse flash back meia boca da pior parte do underground e ver tudo outra vez?


Se quiser te comer vou ter que achar legal Laranja Mecânica (outra vez), O Fabuloso Destino de Amelie Poulin (mais uma vez) e outros clichês de gerações?


Vou ter que ouvir o blá blá blá sobre como a sociedade trata os desajustados e como você ou sei lá mais quem tenta se virar nesse inferninho particular?


Então quer dizer que pra conseguir te comer, não devo me importar com seu visual super descolado, totalmente antenado com a moda e absolutamente idênticos aos das suas amigas gostosinhas?


Pra te comer vou ter que fazer parte dessa tribo do All Star?


Justo eu, que não suporto ficar recluso a um único universo, quanto mais a um beco?


Porra, faça logo 30 anos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009


Vagabundos bem-sucedido

Você conhece algum? Eu conheço.


Um dos melhores, inclusive.

Aos vagabundos bem-secedidos devemos tudo e temos que reverenciar sempre que cruzarmos com um pelo caminho. Seja por conivência, cumplicidade ou inveja.

Faça isso sem formalidades, mas com respeito e uma certa distância. Nunca com um abraço de quem encontra o amigo na farra.

Vagabundos bem-sucedidos conhecem todo mundo, a fundo. Sabem segredos obscuros dos grandes nomes das altas rodas. Segredos que não devem ser nunca revelados.

Vagabundos bem-sucedidos são exóticos, simpáticos, camaradas, irônicos e sabem fazer as mulheres gozarem, mesmo as frígidas e esquecidas.

Vagabundos bem-sucedidos entram em qualquer lugar sem pagar porque são amigos dos donos ou são confundidos com amigos dos donos.

Vagabundos bem-sucedidos têm sempre uma história incrível pra contar. Histórias que não aconteceriam com mais ninguém. Histórias que são sempre verdadeiras, já que os detalhes são tantos e tão absurdos, que ninguém seria capaz de inventá-los.

Vagabundos bem-sucedidos não trabalham. E não é que não precisem de grana. É que trabalhar ofende sua crença e limita seu estilo de vida.

A semi-escravidão está reservada a nós aqui no andar de baixo. Nunca a eles.

Vagabundos bem-sucedidos poderiam ser arrogantes, mas não são. Eles já perceberam antes de todo mundo, o quanto as pessoas são burrinhas e nunca ultrapassam a média.

Vagabundos bem-sucedidos estão sempre viajando pra lugares incríveis sem ter que pagar um centavo por isso. As pessoas querem ter a companhia de seu charme, sua sedução, seu estilo de vida inalcançável e seu humor de entrelinhas.

Vagabundos bem-sucedidos são justos e sinceros. Não puxam saco, não trapaceiam, não bancam o esperto e não são imorais.

Vagabundos bem-sucedidos são sábios. São nossos mestres do avesso. São nossos mentores em bares copo-sujo. São nossos monges tibetanos da quebrada.

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Once I lived the life of a millionaire
(inspired in Bessie Smith)

Quando eu era um milionário, divertia-me ver como você me queria profundamente. Tão romântica e apegada, não vivia sem mim.

Quando eu era milionário, me olhavam como estrela de cinema enquanto andava pelas ruas.

Quando eu era milionário, ria alto em restaurantes esnobes e minhas gorjetas eram as que mais faziam sorrir os garçons e flanelinhas.

Quando eu era milionário, acordava tarde em camas sempre tão grandes, macias, com pessoas estranhas me servindo um café da manhã de sultão, cheio de frutas que nunca descobri o nome.

Quando eu era milionário, escolhia viagens no jogo de dados, apostava em cavalos de corrida e não me importava com roupas elegantes.

Quando eu era milionário, seu sorriso era tão sincero e farto. Seu olhar era tão legítimo. Seu amor por mim parecia eterno.

Até que um dia, num golpe de azar, os centavos se foram e com eles os restaurantes esnobes, os convites para festas animadas e enfadonhas da alta sociedade, as viagens exóticas, os sorrisos receptivos e as noites em camas espelhadas.

Mas de tudo, o que sinto mais falta, é o respeito dos flanelinhas.

quinta-feira, 30 de abril de 2009




Rohypnol

- A nível de direção teatral, sinto que nos falta mais incentivos. As pessoas querem respirar e se alimentar de arte, mas não tem condição de consumir isso. É como diz aquela música...como é mesmo o nome? Enfim.
Estou dirigindo uma peça de Nelson Rodrigues me inspirando nos contos de Sniver Galho. Ele é meio Nelsonrodrigueano. Uso uma linguagem concretista. Não sei se as pessoas vão entender isso... não é como ver uma partida de futebol.

- Ahan... Por falar nisso, sabe como ficou o jogo do Mengão ontem?

quarta-feira, 29 de abril de 2009


Válium

- Hoje faço trabalhos tridimencionais em argila, gesso, ferro e qualquer coisa que possa montar, soldar, colar, junta, amarrar. É uma maneira de dizer para as pessoas que estamos desperdiçando coisas e que estas mesmas coisas podem ganhar outro sentido. Um sentido artístico na perspectiva do outro.

- É por isso que você usa essa barba?

terça-feira, 28 de abril de 2009


Rivotril
(Stencil de Banksy, grafiteiro nascido em Bristol, Reino Unido)

Sou artista mano. Faço grafite, né brow. Por que o negócio é subverter a ordem e ser contemporâneo, desconstruir e depois construir uma nova linguagem pictórica urbana carregada de metáforas. Pode crê?

- Aahhh...saquei! Que nem o homem das cavernas, só que de boné...

segunda-feira, 27 de abril de 2009


Lexotan


- Acho que a cidade precisava de mais espaços para que o teatro aconteça. As pessoas adoram teatro. Tenho certeza. Minha sensibilidade de atriz consegue ver isso nos olhos delas.


- ?


- ...desculpa, tava dormindo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009


Um viva aos amigos
(a tela As damas d'Avignon - Picasso bem que poderia ser uma ironia)


- A cada dia que passa, tenho mais medo de me tornar aquilo que menos gosto em mim. Você me entende?

- Claro!

- Acho que teria que viver uns 500 anos pra aprender a me perdoar e me entender melhor.

- Legal. Mas eu só tenho duas horas. Bora comer umas puta.

- Demorô

Formalismo


Já imaginou se todos nós, honrados cidadão e pagadores de impostos nos tratássemos com o mesmo respeito com que as mais importantes autoridades se tratam? Imagine como seriam nossos diálogos.

No trânsito
- Vossa Excelência comprou a carteira aonde?
- Por que Vossa Excelência não vai se foder?
- Vossa Excelência me respeite ou quebro seu nariz, filho da p...

Em frente a construção
- Ohhh gostosa! Vossa Excelência é a nora que minha mãe sempre quis.
- Vossa Excelência não se enxerga não?

Na blitz
- Vossa Excelência pode me mostra sua habilitação?
- Vossa Excelência sabe com quem está falando?
- Vossa Excelência deve saber que eu não me importo, desde que não seja ministro, senador ou qualquer coisa do tipo.

Na esquina
- Vossa Excelência está a serviço?
- Sim Senhor
- Será que Vossa Excelência poderia cair de boca?
- Claro. São 50 dinheiros.
- Vossa Excelência perdeu o juízo? 50 dinheiros por um boquete?
- Vossa Excelência pode escolher: É pagar ou largar.
- Vossa Excelência me deixa sem escolha. Dinheiro está na mão
- Pois não. Calcinha está no chão.

Na boca de fumo
- Vossa Excelência vai querer quanto?
- Vossa Excelência me veja 50 gramas de fumo do bom, sem chute.
- Vossa Excelência me respeite, pois esta é uma boca de gente séria.
- Vossa Excelência me perdoe. Mas veja logo esse bagulho... os homi tão na cola.

quarta-feira, 22 de abril de 2009


Free Hughs

Que merda. Lá vem o pentelho.

Ele não está com sorte hoje. Prometo não ser mal educado com ele. Não tenho paciência pra isso.
Ele tá chegando. Vou fingir que não é comigo.
Caralho. Sai fora moleque.
Não me faça mostrar a mim mesmo o quanto sou mal humorado e a você mesmo, o quanto é imbecil sem a mínima criatividade.
Lá vem ele. Fudeu.

O cara com a placa “free hughs” me espera de braços abertos.

- Quer um abraço grátis?

- O que? Um abraço grátis?

- Sim

- Pra que? Não to carente. Se gostasse de gente estranha me esfregando andava de ônibus.

- Tudo bem (com a cara de quem não tinha ensaiado a fala)

- Não é nada pessoal amiguinho. Se fosse a tua amiga no seu lugar, adoraria me esfregar naquele par de peitinhos quase intactos.

Lá vai o pagador de mico oficial dos eventos alternativos. Preciso me lembrar de proibir meu filho de reproduzir essas merdas que circulam pela internet.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


No future

Nos seus olhos refletidos no grande espelho iluminado do banheiro, ele via um resto de euforia passageira, misturada com o que sobrou de prazer.


Só agora ele percebera o esforço que fez, vendo o rosto suado, a boca seca e o coração na garganta. Ele não precisava se olhar no espelho, mas uma razão o fez levantar os olhos que fitavam o fundo da pia de mármore.

Queria saber com que cara ficava imediatamente após ter gozado. Foi uma punhetinha breve, sem muita inspiração. Ele não sabia se era típico dos homens. Mas sabia que aquela atitude era típica dele.


Outra vez encarou o fundo da pia e, vendo aquilo tudo escorrendo lentamente pelo ralo, pensou profundamente sobre o que havia feito.


Concluiu com a sabedoria dos solitários: essa porra não tem futuro.

quarta-feira, 15 de abril de 2009


Dali do mar

Entre garrafas pets e bitucas de cigarro, vem vindo o grão de areia com seu romântico jeito malandro, cheio de ginga e cheirando a maresia. Ele encara aquela pedrinha roliça e tasca:

- E ai minha pedra, bora fazer um castelo?

No que pedrinha responde:

- Castelo de areia? Vocês grãos são todos iguais!

terça-feira, 14 de abril de 2009




"Sigo tentando ler lábios e entrelinhas."
Mike Merdha

segunda-feira, 13 de abril de 2009


Monólogos de Mike Merdha II

Você também concorda que ser artista é a melhor desculpa pra quem não tem a mínima idéia de que espaço útil ocupa no planeta? Ser artista é uma necessidade egocêntrica pra quem precisa desesperadamente de atenção. Será por quê a gente tem essa necessidade incurável de “se expressar”? Eu grito, xingo, declaro guerra, sussurro, peido, vomito e arroto. Estou sendo eu mesmo, integralmente, fora desse meu insano vaso sanitário. Você também concorda que o que a gente quer mesmo é ser visto, lido, reconhecido, admirado e outras coisas do egogênero? Qual o problema em escrever e guardar na gaveta? Qual o problema em pintar e colocar fogo logo depois? Daí você me pergunta por que to publicando essa merda... Eu preciso me expressar, porra!

segunda-feira, 6 de abril de 2009


Vácuo

Tantas músicas e ninguém pra dividi-las debaixo do céu negro respingado de estrelas pálidas. Músicas pra se ouvir em quebradas silenciosas, no capô do carro. Tanto tempo juntando canções como um garimpeiro. Um monte delas. Tanto tempo acumulando trilhas sonoras pra momentos que teimam em não chegar nunca. Tantas letras para serem cantadas em inglês de taxista e baladas para serem dançadas no asfalto áspero. Tanto cafuné desperdiçado no próprio cabelo encaracolado. Tanto fogo gasto no vácuo. Tanta conversinha boa. Estão encerradas as apresentações de canções e os cafunés desperdiçados nos próprios cabelos... quanto ao fogo, ele não se propaga no vácuo...

quinta-feira, 2 de abril de 2009


Monólogos de Mike Merdha II


Se é pra ficar na merda, quero ganhar asas... como as moscas.

terça-feira, 31 de março de 2009


Diálogos de Mike Merdha



- Homem é tudo Filho da Puta

- Podemos ser amigos. Você sabe como é...amigo é amigo, Filho da Puta é Filho da Puta



sexta-feira, 20 de março de 2009


Os monólogos de Mike Merdha I


"Dentre todos os defeitos que tenho
Um é da virtude o oposto:
Esse meu maldito bom gosto"

quinta-feira, 19 de março de 2009


Clavadista de Acapulco

“Imposible no contener el aliento ante la valentía de los clavadistas de Acapulco”.

Nunca me jogaria de um penhasco com mais de 40 metros de altura pra cair num poço com 4 metros de profundidade. Mas é isso que os pescadores de Acapulco deixaram como tradição. Não estavam ali se exibindo, era só um passa-tempo maluco pra matar o tédio. Algo do tipo: “ei, vamos ver quem consegue pular do lugar mais alto?” Hoje virou espetáculo. Os velhos filmes do Elvis ajudaram a popularizar e torná-los personalidades. Hoje, os filhos daqueles caras ganham seu sustento se jogando lá de cima.
Quantos de nós somos como os Clavadista de Acapulco? Quem tem c...tem medo. Eu ou você não saltaria de um penhasco num poço com 4 metros de profundidade.
Mas cá entre nós, eu tenho o meu precipício particular. É dele que me atiro todo dia. Lá de cima me pergunto: até onde posso ir? Por que estou me jogando daqui?
Porque por uns poucos segundos, posso voar.

quarta-feira, 18 de março de 2009


Deliri-uns

Tive uma noite confusa em 2002. Talvez uma das piores da minha vida. Passei a madrugada tentando desesperadamente não magoar uma Movie Star. Mas como explicar o pé na bunda que dei em Angel? Ela é linda. Ela é perfeita. Ela tem aquele bocão e aqueles olhos de leoa. Mas eu enjoei, amigo. Cansei de ver aquilo todos os dias. Cansei da voz dela. Aqueles predicados já não me impressionavam mais. A vida é assim. Ela é jovem, bela, rica e vai se recuperar. Angel me ligou brava quando me viu com Meg:

- Você nem gosta de loiras seu monte de merda. O que ta fazendo com aquela magrela?”

- Angel, passei a madrugada tentando te explicar.

- Não tem o que explicar. Você não dá valor no que tem. Nunca deu.

- Angel, não quero falar mais disso. Já disse tudo. Não quero te magoar...

- Me magoar? Quem você pensa que é?

Ela começou com aquele choro melodramático, misturando Lara Croft e Amelia Donaghy no Colecionador de Ossos. Imaginei aquele bocão berrando.

- Por que você fez isso comigo?

- Angel, você é linda. O mundo te inveja, o Brad ta na sua cola. Vai ser feliz...

- Me responde: o que ela tem que eu não tenho?

- Angel...

- Anda, me diz. Eu agüento.

- Meg tem charme, Angel. Charme não envelhece. Eu adoro o jeito que ela me olha de manhã, quando acorda...

- Mentira. Não é isso. Diz a verdade...por favor.

- Ta bom Angel. Ela faz o melhor boquete do mundo.

Tu tu tu tu tu tu tu tu

terça-feira, 17 de março de 2009


To afim de ser chato I

To aqui pensando... Será que você já reparou que tem umas palavrinhas que de uma hora pra outra passam a fazer parte do vocabulário já bastante limitado da unanimidade? Será que algumas palavras foram capazes de encher só o meu saco? Não é possível! Eu não sou um cara tão importante assim e meus sintomas de perseguição ainda não são tão agudos a esse ponto. Vou avisar:

Se você for artista e vier conversar comigo (não espere que eu tome essa iniciativa meu chapa), por favor, não diga Mineiridade, Brincantes, Brincartes e outras baboseiras do gênero que só fazem sentido no seu mundinho limitado e inútil.